23 de junho de 2025

VICKYS SPORTS GASTROPUB

VICKYS SPORTS GASTROPUB FUTEBOL AO VIVO, GASTRONOMIA

Artesanato é protagonista nas festas juninas resgatando raízes, tradições e religiosidade

Em meio a bandeirolas coloridas, o cheiro de milho cozido e o som contagiante do forró, o São João é uma das celebrações mais importantes para o povo nordestino. No coração de João Pessoa, os festejos juninos não são apenas uma época de diversão, mas um tempo de reafirmação da cultura, da identidade e do orgulho regional. Entre quadrilhas, trios de forró e comidas típicas, um dos elementos que mais se destaca é o artesanato — expressão genuína da alma nordestina.

Na Capital paraibana, artesãos e artesãs aproveitam o período junino para intensificar a produção e expor criações que encantam moradores e turistas. As feiras de artesanato promovidas pela Prefeitura de João Pessoa se transformam em vitrines da nordestinidade, onde cada objeto revela o orgulho de pertencer a uma cultura rica, diversa e resistente. As cores vibrantes usadas nas peças — amarelo, vermelho, azul, verde — dialogam com o colorido das ruas enfeitadas, evocando o espírito alegre e acolhedor do São João.

Quem sabe bem disso é dona Lindalva Sousa, artesã que expõe há mais de quatro anos na Feira Móvel do Produtor, realizada pela Prefeitura de João pessoa, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb). Ela produz peças voltadas para os pets, como roupinhas e acessórios, e aproveita o período junino para explorar estampas, texturas e elementos que remetem ao São João, para agradar os tutores e embelezar os animais domésticos.

“O povo gosta de enfeitar os bichinhos, e os turistas levam muito, porque é maneirinho, não tem problema de peso no avião”. Dona Lindalva também ressaltou a importância de participar da feira. “É muito bom participar, estou sempre no CAT Tambaú e no CAM, e nessa época festiva as vendas aumentam, pois os clientes gostam dessas novidades”, destacou a artesã.

Para o nordestino, o São João é mais do que uma festa: é uma memória viva das raízes sertanejas, das tradições familiares e da religiosidade popular. E é justamente nesse cenário que o artesanato ganha protagonismo, traduzindo em formas, cores e texturas a essência do povo e da festa. Em cada peça feita à mão — seja em tecido, barro, madeira ou palha — há uma história, uma paisagem ou um símbolo que remete ao São João: balões, fogueiras, sanfoneiros, casais de matutos, bandeiras, espigas de milho e santos juninos como São João, São Pedro e Santo Antônio.

Francineide de Souza Dias e Zilma Pereira, artesãs estreantes na Feira Móvel do Produtor, fabricam laços e acessórios há cinco anos, e acreditam que utilizar elementos que resgatam a cultura junina alimenta a memória afetiva dos clientes, além de ser um sucesso de vendas na época.

Segundo Francineide, que produz artesanato desde criança e migrou para a feitura de laços após a maternidade. “A cultura nordestina, a cultura de São João, representa bastante nosso povo, pois remete muito aos tecidos de chita, xadrez, e aqueles costumes que vem bem de antigamente e que a gente vem trazendo até hoje. É a nossa referência na época junina, principalmente do artesanato, daquela coisa mais feita à mão, que traz a memória afetiva. Quem aqui no Nordeste não gosta do São João? Acho que é a época que o povo nordestino mais gosta”, destacou a artesã.

E é desse resgate dos costumes de antigamente que vem a criatividade para a confecção das peças. “Nessa época junina o que mais vende são as peças que têm essa referência da nossa cultura. A gente fica procurando os materiais, acessórios e tecidos, para criar os laços. Ano passado usei fogueirinhas, sanfoninhas, girassóis, balõezinhos, e esse ano optei por bonequinhas vestidas com roupas de quadrilha”, destacou a artesã Zilma, que ressaltou ainda a alegria em expor seus produtos na feira. “Procurei a Prefeitura, me inscrevi, e fui contemplada. Participar da feira é bom para as vendas e bom para as amizades, pois fazemos amizade aqui”, pontuou Zilma.

Além do valor estético, o artesanato junino representa também uma importante fonte de renda para muitas famílias. O fazer artesanal, passado de geração em geração, encontra nos festejos uma oportunidade de valorização e comercialização, fortalecendo a economia criativa local. É nesse encontro entre tradição e sustentabilidade que o São João reafirma seu papel como patrimônio imaterial do Nordeste e como espaço de expressão cultural para o povo pessoense.

Festas Juninas aquecem vendas – Na Feira da Economia Solidária, realizada neste mês de junho, no Mangabeira Shopping, os mais de 50 grupos de artesãs e artesãos cadastrados pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) se revezam de quinta a domingo para expor e vender os produtos. No local todo decorado como uma cidade de interior, a aura junina permeia a inspiração para confecção das peças e a busca dos consumidores por produtos que traduzem a época festiva.

A artesã Letícia Raquel, que produz há quatro anos acessórios para os cabelos, como laços, tiaras, e presilhas, revela que, nesse período, muitas mães procuram por artigos que remetem ao São João para adornar as crianças que participam das festas juninas das escolas.

“Costumo vender bem nesse mês por causa da época, pois as pessoas, as mães principalmente, procuram os acessórios juninos para as quadrilhas das escolas, então sempre tem uma procura um pouco maior”, declarou. Segundo ela, a inspiração para suas peças vem do colorido dos festejos. “O São João tem que ser uma coisa colorida, com vermelho, amarelo, verde, xadrez, chita, e estampas coloridas que transmitam a alegria que é a festa junina”, ressaltou Letícia.

A gerente de Recursos Humanos Poliana Cardoso atesta a procura por acessórios juninos para as crianças que vão dançar quadrilha nas escolas. Mãe de Ana Luíza e Ana Clara, de quatro e oito anos, respectivamente, ela foi até a feira em busca das novidades em laços e acessórios. “Todo ano a gente renova, tanto os vestidos quanto os lacinhos juninos, e se prepara com novos acessórios para as viagens de São João”, disse Poliana, enquanto admirava o colorido das fitas e estampas dos laços.“Acho que é a melhor época tanto para os adultos, como para a criançada” concluiu Poliana.

Dona Valda Lúcia Ribeiro, que também é uma das expositoras na Feira da Economia Solidária, disse que, para ela, neste período não pode faltar nos produtos referências à cultura nordestina e aos festejos juninos. “É a fogueira, o cacto, o milho, e sempre tem o fuxico no meio, a bandeirinha, tem que ter”, destacou. Artesã há décadas, ela produz acessórios de tecido para decoração do lar, como panos de prato, porta-talheres, luva e pegador de panelas, capas de almofada, e nessa época se dedica um pouco mais a confecção de artigos que representam o São João, com referências aos santos das festas, as quadrilhas, o colorido das chitas e bandeirinhas, criando, com bases de juta e palha, bastidores, estandartes, balões e guirlandas.

Segundo dona Valda Lúcia, que produz artesanato desde criança e faz da vendas das peças sua segunda fonte de renda, participar da Feira de Economia Solidária foi o divisor de águas para se tornar uma artesã profissional. “Artesanato eu comecei desde criança, mas me dediquei depois da idade mais avançada. Faço para passar o tempo, e também para aumentar a renda, né? E eu gosto de fazer. Acho que faz uns 10 anos que participo da feira. Antes eu fazia em casa, quando uma amiga me convidou, fui participar e gostei demais, até. Gosto de participar, aproveito o tempo e as amizades”, afirmou Valda Luz.

Sobre as peças com referência junina, dona Valda disse que renova os produtos a cada ano, para sempre ter novidades para os clientes. “Eu sempre procuro modificar, nunca faço a mesma coisa”. Segundo ela, os produtos estão com boa saída, e as encomendas de peças, principalmente dos estandartes, estão vindo por parte do público local e também dos turistas. “Já vendi peças para o exterior. Eu tenho trabalho enviado para Campina Grande, Natal, para a Suíça, e também para o Canadá”, revelou a artesã.

A Feira da Economia Solidária, promovida pela Prefeitura de João Pessoa, através da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), acontece todo final de mês no Centro Administrativo Municipal (CAM), em Água Fria, no dia do pagamento dos servidores municipais. Ela também é realizada, em uma parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, todas as quartas-feiras, no Parque Paraíba I, no bairro Jardim Oceania, na região do Bessa.

De acordo com Karla Vanessa Vieira de Souza, uma das coordenadoras da Feira da Economia Solidária, há mais de 50 grupos de artesanato cadastrados, onde cada um é formado por três pessoas. Na feira que acontece este mês no shopping, a convite do centro comercial, oito grupos participam, de quinta a domingo, das 10h às 22h, com um revezamento semanal dos artesãos. “Não estão todos aqui porque o espaço é pequeno, só cabem oito grupos e estamos fazendo um rodízio, onde toda semana colocamos grupos diferentes para dar espaço a todos”, destacou.

Os artesãos sempre são chamados para participar de eventos e, segundo Karla Vieira, quando os grupos são convidados para alguma parceria, o núcleo de Economia Solidária, da Diretoria de Economia Solidária e Segurança Alimentar e Nutricional (Dessan) da Sedes, organiza toda a logística, levando o material necessário para a exposição, como mesas e cadeiras, de forma gratuita, e todo o lucro com as vendas é dos artesãos.

Arte e cultura – Além da realização das feiras, a Prefeitura de João Pessoa mantém o Celeiro Espaço Criativo Cantor Gabriel Diniz, vinculado à Secretaria de Educação e Cultura (Sedec), que reúne obras de artistas da Capital e de várias cidades da Paraíba, com o objetivo de fortalecer a divulgação e a comercialização da produção artesanal. O espaço funciona no Hotel Globo, localizado no Largo de São Frei Pedro Gonçalves, no Centro Histórico da capital paraibana, no bairro do Varadouro. A visitação é gratuita e acontece diariamente, das 8h30 às 17h.

O espaço tem recebido, desde o início do mês, diversos turistas à procura de artigos que traduzem a cultura junina e nordestina, reforçando o quanto nossas festividades são acolhidas e apreciadas pelo restante do país. Segundo a artista plástica e artesã Jailma Rocha, que expõe no Celeiro. “O público daqui também valoriza o artesanato local, mas os visitantes de fora valorizam muito mais”, explicou. Com peças variadas, desde capa de almofada, bolsas, necessaire, porta-óculos e porta-celular, chaveiros, entre outras, a artista usa seu trabalho para expressar a nordestinidade através das estampas que exibem xilogravuras em situações cotidianas da nossa região. “A arte nordestina está intrínseca no nordestino. A xilografia é um marco, principalmente aqui da Paraíba”, enfatizou Jailma Rocha.

Priscilla Soares, coordenadora do Celeiro, destacou a grande procura por produtos durante este mês. “A procura é maior em relação a esses artigos, até porque o turista que vem quer aproveitar e conhecer a cultura nordestina, então é bem procurado, artigos com temática de junina e que sejam feitos também com produtos da terra, como é o caso do algodão colorido. Também há busca por peças de tecido, a cerâmica feita do barro, que remete muito aqui ao nordeste e à cidade, também são muito procurados, além das rendas, que também são referências da nossa cidade e da nossa Capital”.

Celebrar o São João, portanto, é celebrar o que há de mais autêntico na cultura popular nordestina — e o artesanato, com sua beleza e simbolismo, é uma das mais potentes formas dessa celebração. Ao adquirir uma peça feita por mãos locais, o consumidor leva para casa não apenas uma lembrança da festa, mas um pedaço da história, da cultura, da fé e da resistência do Nordeste.